Um pequeno passo na mente, um grande passo para o ambiente
por Mariana Araújo
Em agosto de 2021, foi lançado "um código vermelho para a humanidade". Foi assim que António Guterres descreveu o relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática. O Secretário-Geral acrescentou que deveria soar como uma sentença de morte para combustíveis fósseis e selecionou a transição para uma dieta vegan como um dos passos mais importantes para desacelerarmos o aquecimento global.
Porém, já em 2020, um estudo da Universidade de Oxford tinha chegado à mesma conclusão: ao adotar uma dieta vegan, a nossa pegada ecológica diminuiria por 73%. Isto é porque produzir 'carne' vegan lança menos 90% de gases de estufa em comparação com carne verdadeira.
A "Global Footprint Network" revelou que dentro do Mediterrâneo, Portugal é o país com a maior Pegada Ecológica per capita ao nível da alimentação. Este estudo provou que a pegada ecológica por residente (3.94) é superior à biocapacidade média por pessoa (1.28), o que significa que cada um de nós precisaria de em média 2.3 planetas Terra para se saciar.
DIFERENÇA ENTRE O VEGETARIANISMO E O VEGANISMO:
No que diz respeito ao vegetarianismo, a dieta não inclui carne nem peixe. Por outro lado, ser vegan é mais do que uma dieta: é um estilo de vida. Além dos lacticínios - como o leite, as natas, o iogurte, a manteiga, o queijo, os ovos, etc, - os vegans não comem nada que tenha derivado de um animal. Isto inclui mel, 'marshmallows', gelatina, gomas, chicletes, etc. Também não compram roupas feitas com couro, lã, pelo, caxemira, penas, seda, etc. Não usam tambores feito com pele de animal ou violinos cujas cordas foram feitas de tripas. Parecem muitos 'Não's e muitos 'etc's, mas quando chegarem ao fim deste artigo se calhar não parecerão assim tantos.
GASES DE ESTUFA:
Durante o processo de produção de produtos animais relacionados com gado, cada passo gera gases como dióxido de carbono, metano e o óxido nitroso. Estes passos incluem o desflorestamento de florestas, a produção de ração para o gado, a água para regar os pastos e saciar a sede dos animais e, ultimamente, os resíduos.O metano é 80% mais potente a conservar calor na atmosfera do que o dióxido de carbono e é responsável por 30% do aquecimento global desde os tempos pré-industriais. 32% da emissão de metano causada pelos humanos vem da digestão e defecação do gado. Em cada ano, uma única vaca projeta 100 quilos de metano para a atmosfera. Temos 1.5bilhões de vacas no nosso sistema de comida mundialmente… Com o veganismo, cortaríamos as emissões por 45%.Já o óxido nitroso só compõe 6% das emissões causadas por humanos, mas é 300 vezes mais potente do que o dióxido de carbono a criar um efeito estufa. Pode permanecer na atmosfera por 100 anos antes que a decomposição comece.
COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS:
Os combustíveis fósseis são os culpados por 25% das emissões globais de gases de estufa e são usados para o processamento da carne, bem como para o seu transporte. Para produzir 0.5 kilos de carne bovina, é necessário 31.5 kilowatt por hora de energia. Isto é o equivalente à energia utilizada pelo teu frigorifico durante um mês inteiro.
DESPERDÍCIO DE ÁGUA:
As Nações unidas estimam que até 2030, 700 milhões de pessoas poderão enfrentar escassez de água intensa. Para termos 0.1 kilos de carne bovina, precisamos de quase 2,000 litros de água. Isto é equivalente a 23 duches. Fazer a transição para uma dieta vegan reduz a nossa pegada de consumo de água individual por 55%.
A NOSSA TERRA:
Aproximadamente 1/3 da área terrestre é dedicada ao pasto de gado para consumo. Durante 15 anos, a indústria da carne queimou mais de 670 milhões quilómetros de floresta tropical. Isto é equivalente a 84 milhões campos de futebol.
Uma estimativa do "Good Food Institute" declara que "carne" vegan usa 99% menos terra para ser produzida do que carne tradicional. Com uma dieta vegan implementada mundialmente, 75% do solo arável seria salvo. De acordo com investigadores da Oxford, essa área é equivalente à junção das áreas dos Estados Unidos, da China, da Austrália e da União Europeia. Similarmente, a desflorestação baixaria por 94%. Como a desflorestação leva à perda de habitats, 135 espécies diferentes de plantas e animais são levadas à extinção cada dia. Isto significa 50,000 espécies perdidas por ano, de acordo com a ONG "One Green Planet".
A erosão devido à desflorestação e a sobrecarregamento do solo leva à deterioração da sua qualidade. De acordo com a "International Union for the Conservation of Nature", se a degradação do solo continuar a este ritmo, poderíamos experienciar um défice de produção alimentar de 25% até 2050.
OS NOSSOS OCEANOS:
Quando as indústrias descarregam resíduos animais no oceano, o azoto e o fósforo libertados interagem quimicamente com a água para criar "zonas mortas", onde o nível de oxigénio está demasiado baixo para a maior parte das espécies sobreviverem. Foi isto que aconteceu a milhões de quilómetros do Golfo do México, que neste momento praticamente não tem vida marina. Além disso, o aquecimento da água conduz à acidificação do oceano. Este processo pode fazê-lo inabitável e matar ecossistemas de corais. A pesca intensiva usa redes de pesca gigantes que são arrastadas pelo leito oceânico, matando qualquer planta que encontrem pelo caminho. As redes "fantasma" são redes que caíram dentro do oceano para nunca mais serem encontradas. Antigamente, as redes eram feitas de corda, mas o nylon (é um plástico e, portanto, não de decompõe) substitui este material desde os anos 60. Este tipo de poluição continua a matar ou ferir centenas de milhares de animais marinhos.
A SAÚDE E O BEM-ESTAR:
A indústria da agricultura intensiva mantém o gado em condições imundas e com sobrelotação, o que faz com que as doenças se espalhem facilmente. A solução mais rápida e barata é injetar os animais com antibióticos. Quando nós comemos esta carne, ficamos resistentes a antibióticos e a ONU já avisou que esta poderá ser a maior causa da morte globalmente até 2050.Por causa de todos estes problemas, a produção de carne já não é sustentável e, num futuro próximo, muita gente perderá o acesso a comida. Neste momento, 8.9% da população mundial (690 milhões de pessoas) sofre de malnutrição e insegurança alimentar. Se continuarmos por este caminho, a esgotar os nossos recursos naturais, a furar a camada de ozono e a causar erosão do solo, este número não vai parar de subir.
A CONCLUSÃO:
Aposto que os 'Não's e os 'etc's já não parecem assim tão assustadores…Não precisamos de ser todos vegan. Mas se incluirmos um prato vegan na nossa dieta por semana (e depois, progressivamente, por dia), já estaríamos a fazer a diferença. Experimenta um dos milhares de tipos de leite vegetal, natas de soja, agave em vez de mel, agar-agar em vez de gelatina, tofu esmagado com açafrão em vez de ovos mexidos… Prometo que vais gostar.Se gostas mesmo de carne e peixe, tenta comprar local. Só isso já ajuda: a probabilidade de o produto provir de uma indústria intensiva é menor e há significativamente menos poluição durante o transporte. Se conseguires abdicar de produtos animais de vez em quando (ou, quem sabe, definitivamente), estás no caminho certo e o planeta agradece.
FONTES:
https://thehumaneleague.org/article/environmental-benefits-of-veganismhttps://www.onegreenplanet.org/animalsandnature/the-effects-of-deforestation-on-humans-and-the-environment/https://www.plasticsoupfoundation.org/en/plastic-problem/plastic-environment/ghost-nets/https://www.avp.org.pt/a-pegada-ecologica-dos-portugueses-o-impacto-do-consumo-de-carne-e-peixe/https://news.un.org/pt/story/2021/08/1759292